25 maio musicata da madrugada
Noite sempre foi lugar dos mistérios, lugar em que a lógica e o conhecimento não contribuem muito para o entendimento.
Muito diferente do que acontece hoje, antes, eu geralmente acordava no meio da noite. Um temor temperado com interesse pelo incompreensível me fazia ficar acordada escutando a noite acontecer.
Em alguns momentos não tinha certeza se estava sonhando ou se realmente estava acordada. Um desses momentos era quando escutava uma imensidão de cachorros latindo, perto, longe e muito longe. Os cachorros latiam, uivavam. Os latidos eram diferentes, uns fininhos, outros eram roucos, tinham também os grossos, os que pareciam de vira-latas e os que pareciam de cachorro bravo, mesmo sendo tão diferentes e tão distantes eles se comunicavam. Falavam a mesma língua. Ficava ali escutando até cair no sono novamente.
A madrugada em parceria com o vento trazia de um bairro distante, o barulho do trem passando pelos trilhos, escutava, era tão gostoso. A locomotiva, o apito e o som do trem indo embora. O barulhinho do trem era muito distante, ia sumindo, sumindo aos poucos.
Tão bom quanto o trem era escutar o músico da madrugada dando o seu espetáculo. Ficava imaginando o galo saindo do galinheiro, orgulhoso, peito estufado para cumprir sua missão, preencher a noite com melodia.
Os sapos, que também, se faziam próximo através do vento, coaxando em um brejo distante, faziam sua apresentação de maneira orquestrada.
Na época, esse som não era tão representativo, mas no resgate das memórias infantis, tudo se transformou, tornou-se belo, com um brilho e musicalidade que eu não acreditava que o silêncio da noite pudesse emitir.
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