19 maio roxo
Na infância nunca tive certeza sobre a origem do nome. Suspeitava. Roxo de raiva, sim, talvez fosse por esta razão que ganhou o apelido. Todas as vezes que se sentia ameaçado, agredido, era assim que ele ficava. Baixinho, com menos de 1,5 m de altura, virava um leão. Eram necessários vários homens para detê-lo.
Perversidade é da natureza humana, então, o provocavam. Falavam da sua mãe, o chamavam de filho-da-puta, preto, macaco. Só para ver ele ficar louco. Ele enlouquecia. Gritava, brigava, xingava palavrão. Jogava pedra. Os agressores revidavam e muitas vezes nesse combate desmaiva. Iam buscá-lo. Chegava em casa todo ensangüentado. No outro dia, nem lembrava.
Na maior parte do tempo bricalhão, vigiava as crianças da rua e dava notícia de qualquer travessura. Implicava, mesmo, era com as meninas. Não podiam vestir short curto, não adiantava dizer que short era curto. E, se por acaso, percebesse algum menino estranho rodeando a rua, ficava horas esperando para contar para o pai. Depois saia orgulhoso. Sentimeno de dever cumprido.
Era a atração do bairro, conhecido por todos. Quando a gente falava que morava na mesma rua do Roxo, os meninos diziam: Oh! É mesmo? Queriam saber como era, se tínhamos medo, falavam coisas que até Deus duvida.
Companhia mais divertida dos motoristas de ônibus, que sempre deixavam a primeira cadeira reservada. Passeava assim o dia todo pelo bairro, ia e voltava com um ou com outro. Ficou tão popular que ganhou em sua homenagem a Cadeirinha do Roxo
No domingo tomava banho, vestia sua melhor roupa. Calça de tergal azul pega-frango, camisa pra dentro, cinto apertando na cintura e bíblia debaixo do braço. Ia todo orgulhoso para a casa do senhor. Na igreja não desgrudava o olhar do texto, admirava-se com as letras, mesmo que tivessem de cabeça para baixo. Não importava, saber ler não sabia, mas tinha uma fé fervorosa.
Inocente, agradecido por ter sido acolhido naquela família, mesmo que dormisse no porão, sem porta, sem janela. Só uma caminha lá no fundo e alguém que pudesse chamar de mãe. Isso era tudo que precisava.
Servia a todos. Precisavam de um leite iam atrás dele, para buscar pão, levar um recado, empurrar o carrinho de um bebê, saber das novidades. Ele estava alí, sempre bem disposto. Não envelhecia.
Uma noite deitou, dormiu e foi embora como uma figura mágica, como se tivesse que retornar, pois escapou de algum livro de estória.
Carla
Posted at 17:55h, 29 maioEi !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Seu blog é sua cara, adorei as receitas, mas não me lembro do seu Zé rsrsrs
Beijos !
Sabor com Letras
Posted at 19:52h, 29 maioCarla, que bom você por aqui. Fico feliz por prestigiar o meu cantinho. Lugar de para relembrar tanta coisa… muitas delas você viveu e conviveu conosco. Beijocas e volte mais. Abraços, Adriana.