26 abr cozinhar não é obrigação, é uma forma de amar os outros
Apesar de não comer ovos, peixe e nem frango, a mãe era capaz de preparar pratos deliciosos com esses ingredientes.
No início era mais trabalhoso. A galinha era comprada em uma granja na rua de cima. Escolhia-se a mais gorda. – Essas dão a melhor canja – ela dizia.
Eu ficava sentada na escada olhando aquela cena, com um olhar de medo, misturado a admiração. Matar uma galinha é um ato de coragem e destreza. Uma torcida rápida no pescoço, o corte no local certo e pronto. O sangue era despejado em um prato que ficava logo ao lado. Um mergulho em uma bacia com água quente fazia as penas se soltarem com mais facilidade.
Imagino que mais difícil que isso, pelo menos para ela, deveria ser descamar, limpar e temperar os peixes frescos que o Tio Toninho trazia das pescarias. Logo ele que foi o responsável por causar o horror que ela tinha a essa espécie. Na infância o Tio falava que se caso engolisse piabinhas vivas aprenderia a nadar como peixinho. Ela não aprendeu a nadar, mas começou abominar qualquer tipo de peixe, fossem eles frescos, cozidos, assados, ensopados.
A aversão aos ovos não sei dizer como surgiu, acredito que se deu por algum tipo de analogia. Estes também não eram tolerados, mas as omeletes eram maravilhosas.
Comida, lá em casa, simbolizava o bem-querer. Era uma maneira de saudar as visitas, acalentar quem precisasse, fortificar o afeto. As tristezas, as alegrias, tudo era refogado e transformado em amor e servido nos mais diversos pratos.
Flávia Marques
Posted at 16:54h, 23 maioAdriana,
você me emociona.