27 abr receita de domingo
Frango com quiabo, era assim todo domingo, exigência do pai. O quiabo não podia ter baba. A mãe ensinou:
– Escolha os que não estejam murchos e nem duros, estes estão velhos. Para saber, é só quebrar a ponta, se não for difícil, está bom. Chegando em casa lave e seque um por um com pano de prato bem limpinho.
Era bonito ver a mãe na cozinha, mexendo as panelas, ensinando lição de vida. A música do rádio tocando no fundo Roberto Carlos e a Jovem Guarda. Ali, ela se encontrava e se perdia.
– Faça um corte vertical em cruz, pique na horizontal pedaços nem muito grandes, nem muito pequenos.
Gosta de dizer que cozinha desde os sete anos. Assumiu a cozinha da casa. Fez por obrigação e amor. Necessidade apresentada pela vida. Perdeu o pai aos cinco anos e a Vó Maria teve que ganhar o pão para sustentar a casa.
– Frite o frango até ficar bem moreninho. Retire da panela e coloque o quiabo neste óleo, pois ele pega o gostinho do frango e você aproveita a temperatura, que deve ser bem quente.
Não reclamava, sabia da importância da sua contribuição.
– Coloque pequenas porções na panela. Não adianta colocar tudo de uma vez para apressar o serviço.
Queria que a gente aprendesse, pois quando ficássemos moças deveríamos, pelo menos, saber cortar um frango para não passar aperto.
– Frite por alguns minutos. Para saber o ponto de tirar, pegue um punhado com a escumadeira, faça que vai colocar na panela, mas sem deixar cair e veja se escorre alguma baba.
Passou assim, a maior parte da vida na cozinha, vendo a baba do quiabo, preparando o frango, livrando-se de uma tristeza às vezes arrebatadora, às vezes miudinha, picando couve fina.
– Coloque alho, batido, em uma panela com gordura e uma pitada de corante. Não frite o corante por muito tempo, pois o gosto fica amargo. Despeje um pouco de água.
Fazendo orações para pedir livramento. Batendo claras em neve à mão, cozinhando feijão. Preparando queimadinho, pães, mingau doce de fubá. Vendo a chuva, a horta, as folhas no quintal.
– Espere ferver. Retire do fogo. Sirva com angu, arroz soltinho e feijão batido.
Sinto tanta falta.
Lourdes Sabioni
Posted at 23:03h, 27 abrilMundo pequeno, cabe na palma da mão…quantas, além de mim, tiveram os mesmos ensinamentos…Só Deus sabe!
É bom descobrir que não fui só eu, relembrar uma parte da vida que já tenha sido vivida por outra pessoa, acalenta, fortalece e me diz que o mundo gira, gira de forma a ligar pessoas, hábitos e me avisa, sempre, que somos todos irmãos e que de alguma forma estamos ligados e unidos pela teia do destino, aquele que prepara e ás vezes surpreende os despreparados, assim como eu…
Sabor com Letras
Posted at 01:34h, 07 maioLourdes, nāo tenho dúvida algumas experiências transcedem os limites de tempo e lugar. Cotidiano é universal. Que bom que isso nos aproxima. Fiquei feliz com sua visita!