Sabor com Letras | aos bocados
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aos bocados

16 jul aos bocados

Porque todos os dias são princípio, fui em busca. Encontrei uma voz boa de ouvir. Não tinha cor, altura. Só a voz. Ela me alcançou em meio a risinhos que me faziam sentir simpática, até inteligente. Prefiro pensar  as duas coisas.

Na hora marcada estava eu lá. Curiosa para ver a voz tomar corpo. E tomou corpo, chocolate e café com letras. De tão bom,  lambuzou-se.

Sabia o que me esperava, tive medo e num impulso tentei recuar. Tarde demais. As incertezas dissiparam-se, não houve questionamento, resistência. Só duas almas.

Mudei apenas com roupas de vestir. Encontrei casa feita. Móveis antigos, pretos, torneados, uma cristaleira majestosa, um fogão sem serventia, panelas, colchas, toalhas de mesa, rendinhas que não acabavam mais. Não recusei, aceitei sem soberba. Tudo começa em algum lugar. Não tive dúvidas, encomendei cama e fogão novo.

Juntos lavamos roupas à mão, tomamos chá das cinco e banho frio. Para começar vida realmente nova ajudei a remexer e limpar memórias que  de tão bonitas doíam os olhos. Estes ganhavam feição de tempestade a cada lembrança revirada.

Envolto a saudades frescas, de mãe e pais que nunca mais voltariam, o amor foi sendo polido com doses de esperança, brigas e entrega. Criou raízes. Dava para ver ao olhar um canteiro de beijos coloridos de vermelho, rosa e branco, cuidado diariamente. Maneira encontrada para cumprir um ritual de casamento.

Depois de tudo, bato clara em neve à mão. Sinto saudade de notar a chegada das seis ouvindo Ave Maria e gosto quando ele diz que tenho cheiro de bolo, Sinto-me sensual.

Quando dei por mim uma certeza se apoderou: é amor. Aconteceu.  É sagrado. Na ocasião, chorei gotas de manjericão, carinho e margarida imperial .

Eu acreditei, ele acreditou. Nós acreditamos. Conjugação feita. Decidida, vou  buscar a cristaleira majestosa quando montar casa nova. O lugar vai ser outro, mas o espaço e o amor, esses serão mantidos, não abrimos mão.

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